Pular para o conteúdo principal

A babaquice anti-Barrichello

Erguido por Coulthard e Hakkinen e
humilhado pelos brasileiros
(Da sucursal em Brasília-DF) - Ouvi na CBN na manhã de hoje o programa Hora de Expediente, apresentado pelo ator Dan Stulbach, o economista Luiz Gustavo Medina e o escritor José Godoy.

Gosto bastante do programa noturno de sexta-feira que esses três fazem, o Fim de Expediente, o que não quer dizer que ache tudo o que eles dizem bacana ou engraçado.

O tema do programinha de 7 minutos da manhã de hoje foi puxado por Dan Stulbach, que trouxe a piada bobinha de Rubens Barrichello x tartarugas.

Segundo Stulbach, hoje é Dia Mundial da Tartaruga e aniversário de Rubens Barrichello. E, para entrar no certame das piadas batidas e sem muito argumento, o ator conectou os dois eventos e os três apresentadores fartaram-se na lida de malhar ao Rubens.

Mas, fora do senso comum e atendo-se aos números, Rubens merece ser comparado a tal da tartaruga?

- 326 corridas, 19 temporadas - alguém lento ou ruim largaria tantas vezes em um esporte seletivo e extremamente exigente como é a Formula 1? É importante também considerar que, apesar dos anos ruins em uma Honda e Williams decadentes, Barrichello nunca correu em times inexpressivos.

- 11 vitórias - Barrichello venceu três corridas a menos que Emerson Fittipaldi na F1, que ganhou 14 provas. Venceu mais vezes que mitos mundiais como René Arnoux, Jacky Ickx e Jochen Rindt. Com 11 vitórias, Rubens empata com o campeão mundial de 1996, Jacque Villeneuve. Está longe, sem hipocrisia, dos grandes campeões como Prost e Senna, com 51 e 41 vitórias respectivamente, mas merece respeito;

- 68 pódios - Esteve entre os 3 primeiros por 68 vezes em 326 corridas. A média é de um pódio a cada 4,7 corridas. Senna e Schumacher foram ao pódio a cada 2 corridas. Um foi tri e o outro heptacampeão mundial. É o sexto piloto a mais subir ao pódio na história da F1;

- 658 pontos - Não quer dizer muita coisa, uma vez que a lógica da pontuação mudou diversas vezes nos últimos anos, mas em 140 corridas, Barrichello marcou pontos. É o terceiro piloto da história a terminar mais provas na zona de pontuação, atrás apenas de Alonso e Schumacher;

- 14 poles positions - Largaram também 14 vezes na frente Ronnie Peterson, Alberto Ascari e James Hunt. Jenson Button, campeão mundial em 2009 pela Brawn largou 8 vezes em 1º;

- 17 voltas mais rápidas - Senna fez 19 voltas mais rápidas, Piquet somou 23. Lewis Hamilton e Jenson Button, ambos campeões mundias atuais, fizeram 14 e oito voltas rápidas, respectivamente.

Qualquer análise fria destes números coloca Rubens Barrichello em um patamar diferenciado em qualquer discussão sobre qualidade ou competitividade de pilotos na Formula 1. Por isso, é, até hoje, respeitado na Formula 1 por jornalistas esportivos mundo afora e sustenta fã clubes em vários países, mesmo depois da saída dele da F1.

E qual motivo leva Barrichello a ser tão desrespeitado no Brasil?

A falta de informação, de um povo que compra histórias sem questioná-las.

Sempre que entro em debates sobre Barrichello, os argumentos daqueles que o ridicularizam são os mesmos, construídos por programas de humor como o Casseta e Planeta, que adorava sacanear o piloto.É o mesmo mal que engole a geração atual, com pouco conhecimento e excesso de opinião.

Outro motivo recai nas escolhas de Rubens, que teve a oportunidade de fechar com a McLaren em 2002, mas que preferiu assinar com a Ferrari.

Por lá, teve como companheiro Michael Schumacher, piloto que está em um nível de raro, de sujeitos que
surgem de tempos em tempos e que tinha a equipe Ferrari toda para si.

A Ferrari construía o carro para o alemão na parceria mais vitoriosa da história da F1.

Barrichello, dividindo espaço com Michael, estava atado e sem opções, a não ser cumprir seu papel de escudeiro.

Podem até acusar Barrichello de ter aceitado a condição de segundo piloto, mas com o quadro da F1 da época, ele não seria campeão em equipe alguma. Schumacher tinha a Ferrari nas mãos e dominou os mundiais de 2000 a 2004, sendo campeão consecutivo.

Em 2010, na Hungria, Schumacher jogou sujo contra
Rubens, apertando o brasileiro contra o muro:
carros iguais, resultados diferentes?
De aí até 2011 Barrichello já não teve mais um carro vencedor nas mãos, a não ser em 2009 quando perdeu sua única chance de ser campeão mundial pela Brawn, quando seu companheiro de equipe, Jenson Button, encontrou o melhor acerto do carro antes de Rubens e garantiu-se vitorioso daquela temporada.

Rubens é um piloto normal, com vitórias e erros. Galgou espaço na F1 e se sustentou ali por quase 20 anos e por isso merece respeito. Não tem perfil de campeão, não teve a gana, a garra de um campeão, mas fez sua parte no esporte de elite mais seletivo do mundo.

Se existe alguém que talvez possa chamar Rubens de tartaruga, esse sujeito é Michael Schumacher. Porém, apesar das brincadeiras e alfinetadas trocadas entre os dois, Michael sempre respeitou o colega. Em 2006, quando o inteligentíssimo programa Pânico na TV entregou em uma entrevista coletiva uma tartaruga de brinquedo a Schumacher, incitando uma comparação do bicho com Barrichello, Schumacher brincou e disse:

"A verdade é que o Rubens sempre foi um bom companheiro para mim e, no final das contas, nos demos bem".

Schumacher sabe que deve a Rubens grande parte de seus títulos. E se o maior campeão da história da F1 respeita Barrichello, não sou quem vou fazer o contrário.

Para fechar o post, um vídeo da primeira vitória de Rubens Barrichello na F1, em Hockenhein, no ano 2000.

Naquele dia Rubens largou em 18º.

E venceu.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De volta à Europa

(Da sucursal em Brasília-DF) – No domingo começa a temporada europeia da Formula 1, depois de uma sessão de quatro provas no oriente. A volta das corridas ao continente europeu trará duas grandes mudanças, com efeito já no GP da Espanha de domingo: -  melhoria da minha qualidade de vida. As largadas voltam a ser às 9h da manhã e eu deixo de ser obrigado a acordar no meio da madrugada de domingo para não ter de ver a corrida no compacto do Esporte Espetacular; - a logística da F1 se acerta. Como as equipes não precisam mais se deslocar para o outro lado do planeta, engenheiros e designers passam a ter mais tempo para desenvolver os carros. É no começo das provas na Europa que o campeonato acirra a disputa, com equipes aperfeiçoando os carros com mais eficiência e em menos tempo. Especula-se, por exemplo, que o novo chassi que a Red Bull usará na Espanha é fantástico, sensacional e fodástico. Porém, de tudo o que pode mudar a partir de domingo,

Senna, 20 anos sem meu herói da infância

Eu não era um garoto que dava trela para super-heróis. Nunca tive bonecos, nunca gostei do Hulk, do Homem-Aranha, do super capitão de cueca fora das calças. Minha onda sempre foram os carros, as corridas. E, aos nove anos, eu já cumpria o ritual dos fins de semana de Formula 1: assistia aos treinos nos sábados e as corridas, nos domingos. Verdade que não conseguia ver todas as provas. Minha mãe levava o meu irmão e a mim à igreja aos domingos, mas eu conseguia pegar ao menos os primeiros 30, 40 minutos das corridas e, quando reencontrava meu pai, ao entrar no carro para voltar para casa, a primeira coisa que eu perguntava era quem tinha ganhado. Mas aquele fim de semana foi diferente. No sábado, 30 de abril de 1994, eu estava na sala assistindo ao treino classificatório para o GP de San Marino. Naquela época a fórmula dos treinos era diferente. Os boxes eram abertos por uma hora e, durante aquele período de tempo, todos os carros iam para a pista lutar pelos mel